Esta noite há Estrelas Michelin. E Portugal?

Fotografia: Arquivo
Miguel Pires

Miguel Pires

Esta noite, em Tenerife, ficará a saber-se que novidades trará o novo “Guia Michelin Espanha e Portugal 2018”, que chegará às bancas nas próximas semanas. As expetativas são sempre elevadas nestes momentos que antecedem a divulgação e prendem-se com o mesmo: quem ganhará, manterá ou perderá as famosas estrelas do guia mais influente do mundo? 


 
Há muito que a divulgação é precedida de pistas e mesmo de declarações sobre o que vai acontecer. Este ano não foi diferente. Depois de o guia de 2017 se ter revelado o melhor de sempre para Portugal – em que passámos de três para cinco no número de restaurantes com duas estrelas, e de 11 para 18, nos de uma estrela – esta noite não se esperam grandes noticias para o nosso país. 
 
Num  recente encontro com a imprensa, em Madrid (para o qual não é do conhecimento que algum jornalista português tenha sido convidado), a diretora da edição ibérica do guia vermelho, Maité Carreño, levantou um pouco o véu. Depois de deixar no ar que haverá um novo restaurante com três estrelas (e até mesmo um outro provável) foi deixando algumas indícios que levaram alguns jornalistas do país vizinho a especular sobre números. Por exemplo, Marta Guadaño, do site Gastroeconomy, atira com “dois novos tri-estrelados, cinco novos duas estrelas e 19 primeiras estrelas”. Porém, ainda que Carreño fale sempre de números para o conjunto dos dois países, a diretora do guia foi relativamente clara no que diz respeito a Portugal. Segundo o reportado pela imprensa espanhola, Mayte Carreño terá dito que depois dos excelentes resultados de 2017 este ano “será de consolidação”, o que em si não deixa de ser “uma boa notícia”. 
 
Mas, os responsáveis da Michelin já nos provaram no passado não serem muito bons de contas e darem algumas pistas nem sempre verdadeiras (no ano passado disseram que íamos dobrar o número de estrelas e que o novo três estrelas em Espanha seria fora de uma grande cidade – o que em ambos os casos não se verificou). Portanto, se a especulação faz parte do jogo, vamos lá entrar nela um pouco. 
 
Ao nível das três estrelas 
 
Há muito tempo que se fala de termos finalmente um restaurante com três estrelas no nosso cantinho luso. Espero estar enganado, mas não creio que seja muito provável. Contudo, a acontecer, os candidatos seriam os que há mais tempo carregam ao ombro as duas estrelas: Vila Joya, The Ocean e Belcanto. Será mesmo “a velhice é um posto”, como se diz na gíria, e é a altura do Vila Joya? E o Ocean, que fez uma remodelação total, está a um grande nível e será, provavelmente, o restaurante com o maior orçamento (versus número de clientes) em Portugal? E se fosse o Belcanto, para premiar algo que o guia é muito criticado, o de não dar atenção à cozinha portuguesa (e continua a não dar à vertente mais tradicionalista)? 
 
Ao nível das duas estrelas  
 
Este é o nível máximo que existe até hoje por cá. As estrelas vieram sempre a conta gotas, com anos de intervalo. É verdade que em 2017 chegaram logo dois novos duas estrelas de uma vez (The Yeatman e Il Gallo d’Oro), mas não creio que este ano venha alguma. O trabalho de João Rodrigues no Feitoria (Lisboa) já merecia esse reconhecimento, mas o mesmo foi dito por muitos especialistas no passado em relação ao Fortaleza do Guincho, algo que nunca aconteceu. Também se especulava que o facto de Sérgio Arola ter fechado em Madrid poderia levar a ganhar a segunda estrela no Arola Lab da Penha Longa (Sintra). 
 
Ao nível de uma estrela
 
Tendo em conta o discurso da diretora do guia, é a este nível que poderá haver algumas novidades e que elas irão para o Algarve, mais precisamente para O Vista (em Portimão), onde o portuense João Oliveira tem feito um trabalho merecedor da contenda. Outra hipótese (para não dizer certeza) era o Esporão, mas a vinícola alentejana decidiu mudar o rumo do restaurante (o que levou à saída do chefe Pedro Pena Bastos) e a possibilidade esfumou-se. E porque não a estrela para interessantíssimo Eskalduna, no Porto? Não seria a primeira vez que a Michelin premiava um restaurante novo com uma proposta arrojada (aconteceu com o Loco, em Lisboa, por exemplo), mas... creio que até o próprio chefe Vasco Coelho Santos tem noção que é cedo de mais. Também no passado se falou do Mesa de Lemos, em Silgueiros (Viseu), e – como especula Duarte Calvão, no “Mesa Marcada” – no Gusto, do Hotel Conrad, na Quinta do Lago, ou no Varanda do Ritz Four Seasons, em Lisboa, sempre um eterno candidato.
 
Especulações não faltam, apesar de se prever uma penúria. Todavia, nunca se sabe, porque os responsáveis do Guia Michelin gostam sempre de deixar uma ou outra novidade fora do baralho. Valha-nos, ao que parece, que não haverá perdas de estrelas.