Os vinhos Churchill’s da família Graham’s

Fotografia: Ricardo Garrido
Luís Costa

Luís Costa

John Graham não cai na tentação de “explorar” o peso histórico do apelido que escolheu para designar a empresa de vinhos por si fundada em 1981: “Ao contrário do que possam pensar, o nome Churchill’s não tem nada a ver com o histórico primeiro-ministro britânico. Não, nada disso. É apenas o apelido da minha mulher Caroline”. Pois é. Foi nos idos de 1970 que o pai de John Graham vendeu os vinhos Graham aos Symington e a marca deixou assim de ser património da família. Mas agora há outra história para contar – uma história que já leva quase 40 anos.

 

É aqui que tudo começa e que tudo acaba. Uma porta de correr separa as duas divisões. Parece simbólico. De alguma forma, é mesmo. Quase sem dar por ela, estamos perante a linha ténue que divide o esforço ancestral que caracteriza a história e produção de Vinho do Porto e o momento fugaz em que os consumidores se entregam ao prazer proporcionado pelo principal embaixador dos vinhos portugueses. De um lado, numa sala sobranceira ao rio Douro, com vista privilegiada para a ponte D. Luís, turistas de diversas nacionalidades bebem Vinho do Porto. Do outro lado, um pequeno armazém alberga quatro grandes tonéis com capacidade para um total de 200 mil litros de Vinho do Porto. A separar os dois compartimentos, uma fina divisória. Mas um mundo imenso.

Estamos no centro de visitas da Churchill´s em pleno casco histórico de Vila Nova de Gaia, poucos metros acima das instalações da Porto Ferreira. Somos recebidos pela CEO da empresa, a sempre bem-disposta e simpática Maria Emília Campos, que há alguns meses também tinha sido a nossa cicerone numa visita em reportagem à Quinta da Gricha, o coração vitivinícola da empresa, localizada em Ervedosa do Douro, junto à histórica Quinta de Roriz. Mas agora estamos do outro lado do projeto, a mais de duas horas de distância, para conhecer melhor o local – o belíssimo local, sublinhe-se, com destaque para um jardim em patamares numa das curvas do final do rio Douro – onde a Churchill’s está a concentrar a promoção e venda dos seus vinhos, o estágio e, desde há poucas semanas, uma nova linha de engarrafamento e de rotulagem.

Por entre os balseiros, juntam-se à visita – e à conversa – o fundador e dono da Churchill’s, John Graham, e o seu enólogo Ricardo Nunes. Mas é ainda Maria Emília Campos que tem mais qualquer coisa para nos dizer: “Este centro de visitas veio dar um novo e forte impulso à nossa atividade. É um forte gerador de vendas. Não somos um centro de visitas de autocarros ou de barcos. É turismo especializado, por marcação. Temos aqui sobretudo visitantes de Inglaterra e dos Estados Unidos. Foram anos e anos em que só investimos na produção, agora é tempo de investir noutras frentes. E tivemos a sorte do “boom” do turismo no Porto. Fizemos a aposta no tempo certo.”

À medida que percorremos as instalações da Churchill’s de Vila Nova de Gaia, em notória fase de crescimento, grande azáfama e criação de novas valências, vamos ficando para trás à conversa com John Graham, um homem de rara frontalidade cuja sinceridade chega a ser desconcertante. Se as suas raízes britânicas são por de mais evidentes – desde logo no apurado sentido de humor, no sotaque e na aparência física –, não faz disso grande gala. Bem pelo contrário. E, logo que pode, lembra que nasceu em Portugal. 

John Graham também podia contar uma história envolvente em torno da ligação do seu pai aos vinhos da Graham’s, empresa que acabaria por vender à família Symington em 1970, mas prefere a verdade que o ligou sempre bastante mais ao negócio dos têxteis. Ele próprio faz questão de nos dizer que está no negócio do Vinho do Porto quase por acaso – certamente porque teve oportunidade de trabalhar na Cockburn’s durante alguns anos –, embora tenha por esta atividade uma paixão evidente e um profundo conhecimento (por isso faz questão de ser corresponsável com o enólogo Ricardo Nunes pelos lotes de Vinho do Porto da casa).

“Last but not least”, John Graham não cai na tentação – em que muitos seguramente cairiam – de “explorar” o peso histórico do apelido que escolheu para designar a empresa de vinhos por si fundada em 1981. E é com um sorriso entre os lábios que partilha a inconfidência: “Ao contrário do que possam pensar, o nome Churchill’s não tem nada a ver com o histórico primeiro-ministro britânico. Não, nada disso. É apenas o apelido da minha mulher Caroline. Ela chama-se Churchill, por isso a empresa ficou com o nome dela”.

Pois é, foi nos idos de 1970 que o pai de John Graham vendeu os vinhos Graham aos Symington e a marca deixou assim de ser património da família. Alguns anos volvidos, já se sabe, John voltou a Portugal, ao Douro e ao Vinho do Porto. E, por associação natural, algum tempo depois também à produção e comercialização de vinhos DOC Douro.
A Churchill’s, já o dissemos, tem o seu coração vitivinícola na Quinta da Gricha, em Ervedosa do Douro, e obedece a uma filosofia decalcada do gosto pessoal do seu fundador e proprietário: “Gosto de fazer vinhos da forma mais natural. Acima de tudo, procuro equilíbrio. Acredito que trouxe este equilíbrio aos Vinhos do Porto da Churchill’s. Há um consenso em relação às características que definem o estilo da nossa casa que são facilmente identificáveis”.

Mas se os vinhos produzidos na Quinta da Gricha e terminados em Vila Nova de Gaia são conhecidos pela sua frescura, mineralidade e acidez, hoje a casa de John Graham tem muito mais para oferecer. Para além do centro de visitas localizado no “terroir” histórico das caves gaienses, destaca-se a ainda mais recente aposta no enoturismo da Quinta da Gricha, que beneficia de uma localização privilegiada na margem esquerda do Douro, entre o Pinhão e S. João da Pesqueira. Disponível para acolher visitantes e turistas para uma refeição e prova de vinhos, a Quinta da Gricha disponibiliza também alojamento nos quartos da Vineyard House – a velha casa da quinta que estava em ruínas e foi completamente recuperada.

Como sublinha a CEO Maria Emília Campos, “a Quinta da Gricha é emblemática para a Churchill’s, pois aqui nascem os nossos Vinhos do Porto e DOC Douro. Abrir a Vineyard Residence representa o levantar do véu sobre a essência dos nossos vinhos. Marca uma etapa importante e um reforço na maior aproximação ao consumidor final. Foi essa a estratégia que delineámos para a nossa empresa e que temos vindo a pôr em prática”.