Ainda bem que é assim!

Portugal vive dos mais felizes e entusiasmantes momentos na área do vinho. E ainda bem que é assim! Confesso, por isso, algum espanto quando tropeço nalgumas críticas vindas do próprio setor ou de quem gosta de opinar sobre ele. É que, muito sinceramente, não me parecem muito sustentáveis.

Comecemos pela famosa questão das castas, a base da tão propalada (e justificada) diversidade dos vinhos portugueses. Além do nosso, haverá muitos outros países que se possam orgulhar de preservar e potenciar castas nativas? De resguardar vinhas velhas, de plantar vinha nova com castas tradicionais, de arriscar novos métodos de vinificação numa simbiose de técnicas e instrumentos antigos e modernos? Além do nosso, haverá assim tantos outros países em que, numa adega, possam coabitar em saudável harmonia cubas de inox, depósitos de cimento, ovos, lagares de granito, talhas, cubas de madeira, balseiros, tonéis?...

Se uma geração de enólogos revolucionou, para muito melhor, o setor do vinho português desde finais da década de 90, uma outra geração mais jovem ainda tem-nos desafiado à experimentação sem par – entre os chamados vinhos “naturais”, entre monocastas, entre vinhas de parcelas mínimas, por entre “blends” de castas resgatadas do esquecimento. Sim, muitos desses vinhos são fora do baralho e resultam em pequeníssimas produções, mas suscitam curiosidade e levam-nos a querer experimentar como é uma outra abordagem, um entendimento diferente do vinho. Ajudam a agitar águas. E ainda bem que é assim! 

Também nada contra plantações e experimentações de castas francesas. Alguém imagina o Alentejo sem o Alicante Bouschet? E alguém duvida da importância do Syrah de Cortes de Cima na região, só para citar um exemplo mais concreto? Nada contra o recurso a castas forasteiras pelo simples facto de termos conseguido, e muitíssimo bem, preservar as castas autóctones portuguesas e fazer delas a nossa grande mais-valia, dentro e fora do país.

Há alguns anos, o consumidor conhecia pelo nome da casta um determinado vinho (exceção honrosa ao Alvarinho)? E hoje? Pois é, esse mesmo consumidor, mesmo o mais distraído, sabe que a Touriga Nacional é uma casta, tal como o Encruzado, o Arinto, a Baga, o Verdelho…

Venha quem vier, digam ou escrevam o que quiserem, Portugal vive um grande momento no que ao vinho diz respeito. E o mérito é dos produtores, das empresas, dos enólogos e mais recentemente também de quem trabalha tecnicamente melhor a viticultura.

A tudo isto poderíamos também somar um outro ângulo de análise. Mesmo face a crises em destinos importantes de exportações, como recentemente aconteceu com o mercado angolano, os agentes económicos do vinho souberam reagir de imediato, abrindo novos mercados, fazendo de um problema uma janela de oportunidade. Não será isto mais uma prova de dinamismo, mais um exemplo de grande vitalidade e do excelente momento a que me refiro? Ainda bem que é assim!

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