Continuamos consigo

Em 1859, Charles Darwin, com a publicação da obra “A Origem das Espécies”, apresentava a Teoria da Evolução. Com ela mostrava, comprovando com factos resultantes de anos de viagens, pesquisa e observação crítica, que a diversidade biológica resultava de um processo de descendência que, a partir de formas ancestrais, evoluía por adaptação a novas condições do ambiente. Logo, sobrevive aquele que melhor se adapta e não, necessariamente, aquele que é mais forte. 

 

Há um mês, perante uma mudança de ambiente que se adivinha radical, afirmei que íamos continuar. E aqui estamos, com o número de maio nas bancas de sempre e no online. Conseguimo-lo graças à nossa forma de ser e de estar, bem como a uma visão inicial que levou à aposta em conteúdos, comunicação e eventos, trabalhando para e com o setor num registo global, integrado e evolutivo, pautado pela boa gestão, pela transparência e pela ética. É isto que hoje nos dá margem para continuar o caminho que temos vindo a traçar com a capacidade para ir mais longe. Nunca vivemos à sombra de uma posição dominante, pois sabemos que estas não são sustentáveis, principalmente se encerram em si conformismo. Aquele conformismo que, perante o contexto que vivemos e a crise que se avizinha, leva a um baixar de braços, justificado pelo “nada podemos fazer”, apelando à solidariedade e à compreensão de leitores e produtores. Se o fizéssemos, estaríamos a escrever, e roubo o título a Gabriel Garcia Márquez, a “Crónica de uma Morte Anunciada”. Aí não perceberíamos por que é que leitores e, sobretudo, produtores, deveriam apoiar o nosso projeto. Afinal, quando alguém decide apostar ou investir, quer fazê-lo junto de alguém que tenha instrumentos para captar e atingir novos públicos, saúde financeira para lançar novos projetos e, sobretudo, capacidade para pensar e agir fora de zonas de conforto, indo mais longe e prosseguindo o seu caminho.
 

Folheando esta edição verá que não há conteúdos reciclados de edições anteriores ou secções descontinuadas. Não os há na revista como não os há nos programas semanais de rádio e televisão. Visitando as nossas redes, verá que criamos novos formatos e conteúdos. Ao dia em que escrevo este editorial, posso afirmar que efetuámos 20 provas em simultâneo, realizámos e lançámos 23 entrevistas a produtores, chefes de cozinha, sommeliers, proprietários de garrafeiras/lojas, importadores, distribuidores, governantes e dirigentes de instituições. Criámos a campanha “Para Conheceres”, que vai entrar na terceira semana consecutiva de publicação. Vamos avançar com a ação promocional “Portuguese Wine Legends” a nível nacional e internacional e estamos a finalizar o website TAP Wine Experience by Revista de Vinhos e os primeiros conteúdos que estarão a bordo da nossa companhia bandeira. Paralelamente, postamos mais de 200 posts sobre vinhos, gastronomia e regiões e já distribuímos 26 newsletters diárias, 5 de fim de semana e 4 semanais, estas em língua inglesa. Estamos a trabalhar, lado a lado, com produtores de norte a sul, do continente e das regiões autónomas. Com estas e outras ações, damos não só sequência à nossa missão de informar, como também retribuímos a confiança que diariamente milhares de amantes do vinho e da gastronomia depositam em nós.

Não é fácil, não é simples, pois este contexto, para além de pôr à prova a nossa aptidão para encontrar alternativas, vai exigir que testemos modelos para seguir um rumo adequado. O caminho será longo, com etapas perdidas e batalhas ganhas, requerendo reajustamentos e correções. Esta não é uma crise como as outras que, pelo elevadíssimo grau de imprevisibilidade que coloca no mundo, apresenta dinâmicas e tempos próprios, que ora nos deixarão avançar e ora nos farão recuar. Esta é uma crise que trará um novo modelo social, que ainda não conseguimos sequer imaginar. Num setor como o do vinho e da gastronomia, com uma crise que limita a interação social como nunca, precisamos de capacidade de evolução e de adaptação, mas também precisamos de unidade, concentração de esforços e, sobretudo, de jogar em equipa. A assertividade do “juntos somos mais fortes” nunca foi tão necessária. Quando as circunstâncias são mais adversas é que se vê o caráter e a resiliência, de projetos e de pessoas. Continue connosco que nós continuamos consigo.

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