Estrelas de Portugal: Carine Patrício

Fotografia: Fotos D.R.
Luís Alves

Luís Alves

Melhor Sommelier em Portugal (2020), embaixatriz dos Vinhos de Portugal na Alemanha e representante de Portugal nos Best Sommelier da Europa e África 2021. Carine Patrício tem um currículo sólido e vencedor na área em que trabalha. Radicada na Alemanha, trabalha em Mosel, num dos mais reconhecidos produtores de vinho. Guarda uma história que não esquecerá com Gerard Basset e tem na agenda um local e uma data: novembro, em Chipre, onde será a final dos Best Sommelier da Europa e África. 


Como descreve a sua infância? As suas origens?
Tanto eu como a minha família tivemos uma infância muito boa, cheia de amor, de felicidade e muita união. Recebi dos meus pais o valor do trabalho, misturado com ambição. Um bom exemplo.

Qual a sua formação e como decidiu esse rumo?
Eu comecei por estudar literatura e filosofia e só vim para o mundo dos vinhos muito mais tarde. Nesse momento, quando decidi fazer desta minha paixão o meu emprego, fiz a escola de Sommellerie na Alemanha. Fui a melhor do meu ano. Depois decidi continuar essa aventura e iniciei os estudos para ser WSET e Court of Masters Sommeliers.

O que a inspira no mundo dos vinhos?
O mundo dos vinhos está constantemente a mudar e em evolução. Aprende-se todos os dias. Para mim é um universo de paixão, de grande trabalho. É incrível ver o que os produtores conseguem pôr numa garrafa. Vinho é cultura, é história, é geologia, é geografia.

A profissão de sommelier continua muito ligada a um mundo masculino. A Carine é uma exceção. Notou alguma dificuldade extra no percurso até aos dias de hoje?
Eu não me vejo como uma exceção. Cada vez mais temos mulheres na profissão, altamente competentes. Por vezes não têm a visibilidade que merecem. E isso, sim, é um problema. Enquanto mulher não tive problemas nesta profissão mas conheço colegas que tiveram, infelizmente.

A Carine é a representante portuguesa no Best Sommelier of Europe & Africa 2021, uma importante competição.
Para definir o candidato para o campeonato europeu, a seleção portuguesa foi uma das mais apertadas até hoje. O novo presidente da Associação de Escanções de Portugal (AEP) decidiu fazer um campeonato nacional com uma exigência internacional. Eu consegui ser a candidata com mais pontos e, por essa razão, fui a melhor. Não quer dizer que seja a melhor de todos. Estiveram 10 candidatos muito bons nas meias-finais. Nesse dia, consegui estar mais a frente. O Nelson Guerreiro ou o Filipe Wang podiam também ter ganho. São excelentes sommeliers.

A competição final estava marcada para 2020, no Chipre.
A competição já foi adiada duas vezes, o que não ajuda nas preparações. Agora está agendada para novembro próximo, no Chipre.

O capítulo Alemanha surgiu desde cedo na sua vida?
Durante os meus estudos, em França, fui por um período curto à Alemanha. Finalizei lá os meus estudos e o plano seria regressar. Mas acabei a trabalhar em restaurantes e por lá fiquei.

Como é trabalhar na Alemanha?
Nunca trabalhei noutro país. Em França também não conheço o mundo do trabalho. Fiz lá os meus estudos mas nunca trabalhei lá. A mentalidade alemã mudou muito mas continua a ser um povo disciplinado e muito organizado. Isso é muito bom. Por vezes tenho saudades de um povo com mais paixão mas gosto muito de viver lá.

Atualmente está no Weingut Joh. Jos. Prüm, um produtor muito reconhecido. Como tem sido a experiência?
Eu conhecia os vinhos deles há muito tempo e sempre gostei do trabalho que lá se fazia. Para mim é uma honra trabalhar para e com a Katharina Prüm, filha do Manfred Prüm, que dirige agora a empresa. Fazemos uma equipa muito boa e isso vale muito.

Como são vistos as referências de vinho portuguesas na Alemanha?
Cada vez melhor. A ViniPortugal está a fazer um muito bom trabalho de marketing fora do país há muitos anos e isso nota-se. Em muitos restaurantes com estrelas Michelin ou restaurantes gourmet encontram-se boas referências de vinhos portugueses de alta categoria. Infelizmente, em muitos restaurantes ainda faltam referências de melhor qualidade. Por vezes, vendem-se apenas os vinhos de entrada.

Como é a Alemanha produtora de vinho, para quem não conhece?
A Alemanha tem 100 mil hectares de vinha plantada, a maioria de castas brancas. É o maior produtor mundial de Riesling, e para mim, o melhor também. As 13 regiões são muito diferentes e têm todas uma grande identidade e diversidade.

Já passou, no seu percurso profissional, por um número alargado de restaurantes com estrelas Michelin. Quer resumir-nos a experiência?
Eu acho que um sommelier tem de passar pelo trabalho de sala e ter uma experiência em locais diferentes, desde o wine bar até ao restaurante com estrelas Michelin, de uma carta com 50 referências até 2000. São sempre experiências muito diferentes. A única coisa que fica sempre é de ser um bom “host” e de oferecer aos clientes uma experiência única e boa. O cliente tem de sair do restaurante com um sorriso. Não há nada melhor.

Para além de tudo isto, ainda é embaixatriz dos Vinhos de Portugal na Alemanha. O que significa para si? Que responsabilidades acarreta no dia-a-dia?
Gosto muito de apoiar a ViniPortugal nas suas ações na Alemanha. Tenho muito orgulho na qualidade dos vinhos portugueses. Não precisam de se esconder perante outros. Temos castas fantásticas, produtores cada vez mais talentosos, regiões únicas e icónicas, tudo isso a um nível mundial. Com a minha empresa de consultoria tento mostrar os vinhos portugueses aos meus clientes. Portugal tem uma grande diversidade e isso é uma arma gigante.

Quer falar-nos da sua relação com o mítico Gerard Basset, falecido recentemente. Fez-lhe uma promessa, em Viena, que conseguiu cumprir.
Sim, nunca esquecerei da conversa que tivemos depois da final do melhor Sommelier da Europa e África em 2017, em Viena durante o “After Show Party”. Eu não queria competir porque me achava velha de mais para começar em concursos. Ele só me disse: “Que idade é que eu tinha quando fui competir? Então, Carine, vais fazer o concurso de Portugal e vais representar o país em 2020. Vamo-nos encontrar lá”. Cumpri a promessa. Infelizmente, não vai estar lá mas sei que estará a olhar por mim e sabe que cumpri a promessa.

Quem é a Carine Patrício para além da vida profissional de sucesso?
É sempre difícil descrevermo-nos a nós mesmos. A minha família e os meus amigos dirão melhor. Sou uma pessoa simples, divertida e mãe dos dois filhos mais fixes que existem!

Imagina-se a viver em Portugal num plano de curto, médio ou longo prazo?
Nunca se sabe o dia de amanhã. Gosto muito de estar em Mosel e de trabalhar com a Katharina Prüm na Joh.Jos. Prüm. Mas tenho uma grande paixão, amor e orgulho por Portugal, E é algo que tem vindo a crescer em mim.