O gigante que também é artesão

Fotografia: Daniel Luciano
Luís Alves

Luís Alves

Em Leça do Balio, sede da antiga UNICER, agora renomeada Super Bock Group, respira-se, primeiro, história – 1890, data de fundação da empresa – e, depois, dinâmica e dimensão. O grupo é grande, todos o sabem, mas a visita da Revista de Vinhos tem por objetivo um pequeno núcleo de produção onde não são feitos grandes volumes. O mérito não é menor e o risco talvez possa ser até maior. Já lá vamos.


Quem vê por fora, uma unidade industrial de grande dimensão, junto à sempre muito movimentada Via Norte, não imagina que lá dentro exista até uma sala de barricas, numa Oficina da Cerveja. O capítulo artesanal trouxe esses novos instrumentos e trouxe, também, um desafio extra. “Começamos este projeto das barricas há cerca de três anos. Entretanto tivemos de aumentar para outra sala pelo aumento significativo do número de barricas”, começa por dizer Miguel Cancela, mestre cervejeiro da Super Bock. E o processo que envolve as barricas tem necessariamente semelhanças com o mundo do vinho, seja pela higienização destas, seja até pelos blends que depois são feitos até chegar ao produto final. “Temos barricas de carvalho francês e americano. Novas e usadas. Depois de colocada a cerveja nas barricas, temos um processo de estágio. Cada barrica tem um processo diferente. Depois cabe-nos ir testando ‘blends’ até conseguirmos obter um produto que consideramos dentro dos nossos padrões de qualidade”, descreve Cancela. E foi isso que aconteceu precisamente com a Super Bock Selecção 1927 Barrel Aged Premium Lager. “Lançamos no final do ano passado com um muito limitado número de garrafas que rapidamente esgotaram. Cerca de duas mil”, começa por explicar Tiago Brandão, diretor de Investigação & Desenvolvimento e Inovação. “Só a lançamos porque nos pareceu que acrescentava algo à cerveja. E também porque estava dentro do padrão de qualidade que queremos sempre dar a qualquer produto do grupo”, esclarece o responsável. O ‘feedback’, esse, apesar do lote muito limitado, foi “positivo e veio de pessoas com experiência cervejeira internacional. É mais um carimbo neste nosso passaporte e estamos já a desenvolver uma nova cerveja na mesma lógica”, adianta Tiago Brandão, que recorda o processo de entrada do grupo neste domínio. “Demorou-nos cerca de 10 anos para termos a confiança, a segurança e a garantia de qualidade para entregar aos nossos consumidores um produto com o padrão a que estão habituados, seja com lotes de duas mil garrafas, seja com 20 mil”. Passado esse tempo e chegados a 2013, saiu para o mercado a linha “1927”, a que se seguiu um ciclo de aperfeiçoamento e de novos lançamentos “com diversidade, mas sem extremismos ou experimentalismos que pudessem comprometer as nossas credenciais”.


Sem canibalizar

Sobre o mercado das artesanais parecem dissipadas as dúvidas sobre se se fala ainda de uma moda ou de algo para ficar. “Temos já uma consolidação de mercado”, analisa Tiago Brandão. “Como cervejeiros ficamos contentes que a cultura se esteja a disseminar. Naturalmente temos uma visão mais empresarial e menos fulanizada, comparando com outros cervejeiros. E vemos que após anos de experimentalismo, estamos a chegar a um patamar de maturidade, com a necessário qualidade a acompanhar”. O responsável afirma mesmo ver “quatro ou cinco cervejeiros com padrões de qualidade e consistência altos, a quem se reconhece a capacidade de entregar um produto suficientemente bom”.

Sobre os públicos, Tiago acredita que exista em Portugal um consumidor fidelizado a esta diversidade que o mercado da cerveja tem conquistado e a que o Super Bock Group tem dado um contributo. “Teremos um crescimento deste segmento e vamos possivelmente aumentar os nossos lotes. Mas nunca o faremos para valores estratosféricos. É uma categoria de nicho e não vamos canibalizar outros mercados do grupo”, refere Tiago Brandão.