Quinta do Gradil

A revolução tranquila chegou à filigrana

Fotografia: Fabrice Demoulin

Luis Vieira é um corredor de fundo. Quando há 20 anos adquiriu a Quinta do Gradil, no Cadaval, assumiu o desígnio de recuperar o prestígio de uma propriedade cujos primeiros escritos remontam a 1492, tendo o apogeu acontecido séculos adiante, ao estar na esfera do Marquês de Pombal. As ideias confidenciadas e os projetos que foram sendo concretizados têm tido, a pouco e pouco, reflexo inevitável na qualidade dos vinhos apresentados. Hoje, a quinta apresenta referências que merecem degustação atenta, ao mesmo tempo que Luis Vieira alcança um dos objetivos de base – distinguir o Gradil do restante universo Parras, um dos principais engarrafadores portugueses, presente em diferentes regiões.

 


Há marcos recentes particularmente importantes para percebermos melhor este trajeto. Desde logo a recuperação do palácio, um imponente edificado que se encontrava em avançado estado de degradação nos finais dos anos 90 do século passando, altura de aquisição da Quinta do Gradil por Luis Vieira. Em fase final de recuperação (apenas falta ultimar a cave de barricas), o palácio já está apto a acolher uma diversidade de eventos, sociais e empresariais. O interior é bastante amplo, o exterior manteve a traça original. Também a capela em honra de Santa Rita está recuperada, enquanto a loja de vinhos e o restaurante continuam de portas abertas. A par disso, a oferta de enoturismo passou a contemplar um conjunto significativo de programas, dentro e fora da propriedade, percebida e explorada que está a vantagem da localização próxima a um dos sopés da Serra de Montejunto.


Nos vinhos, Tiago Correia soma por ali três vindimas. O enólogo que durante alguns anos esteve ligado aos Villa Oeiras, em Carcavelos, expressa-se de uma forma mais abrangente na Quinta do Gradil, sempre com o apoio do consultor António Ventura. 
A perceção de um patamar verdadeiramente diferente deu-se recentemente, aquando do lançamento do Ganita 2015, um vinho de homenagem a António Gomes Vieira, avô de Luis, e do Quinta do Gradil Maria do Carmo 2017, um branco de Sémillon (90%) e Alvarinho (10%), muito elegante, salino, untuoso e que nos obriga a sair de uma certa zona de conforto para percecionar o potencial de abordagens diferentes a um terroir de 120 hectares de vinha própria, a que juntam mais 12ha da exploração da Casa das Gaeiras (vinhos classificados na edição 359 da Revista de Vinhos).


As novidades passam entretanto pelo rebranding de imagem da gama, entregue ao ateliê de Rita Rivotti, que procura segmentar sete séculos de história por diferentes graus de complexidade e ainda uma linha mais experimentalista de vinificações – Saltimbancos.
Em busca de vinhos mais equilibrados, que mantenham uma boa acidez natural que lhes permita evoluir bem, a enologia está apostada em estagiar parte em barricas de maior dimensão, de 300 e 500 ltrs., de carvalho francês mas algumas com tampos de acácia, suavizando a evidência da madeira nos vinhos. “Queremos a madeira para compor, nunca para se sobrepor”, garante-nos Tiago Correia.


Os brancos de 2019 que agora provamos mostram uma consistência generalizada apurada, muito por mérito das condições do próprio ano, dos melhores para vinhos brancos nos tempos recentes no nosso país. Os tintos de 2018 mostram-se gulosos e de tanino redondo, preservando uma das características do ADN da região – a frescura.


Presente em mais de 50 países e exportando metade da produção para mercados como o Brasil, Norte da Europa e América do Norte, o grupo Parras ostenta a Quinta do Gradil como um meticuloso trabalho de filigrana, que vai depurando passo a passo.
Nem de propósito, Luis Vieira garante que tudo o que de mais recente tem acontecido no mundo, no contexto da pandemia, obriga “a uma grande resiliência” e, a sorrir, mantém o otimismo para o que estará para chegar: “Sendo de Fátima, temos que ter fé!”.

 

18
Quinta do Gradil Maria do Carmo 2015

Regional Lisboa / Tinto / Quinta do Gradil
Retinto. Notas de giz, ameixa seca, groselha escura, pimento e balsâmicos. O tanino é senhorial, o volume impõe respeito, a acidez é contínua e salivante. De final persistente e profundo, com derradeira nota de folha de tabaco. Um 100% Alicante Bouschet preparado para cavalgar esta década.
Consumo: 2021-2030
59,00 € / 16ºC

17
Quinta do Gradil Alicante Bouschet 2018

Regional Lisboa / Tinto / Quinta do Gradil
Rubi. Nariz vegetal e balsâmico combinado com expressões de amora, pimento e cacau. O tanino é guerreiro, tem muito boa acidez e dimensão generosa. O final remete-nos para complementos de urze e azeitona preta. Tem a particularidade de ter estagiado em carvalho português. É vinho para vários anos. 
Consumo: 2021-2028
10,50 € / 16ºC

17
Quinta do Gradil Alvarinho 2019

Regional Lisboa / Branco / Quinta do Gradil
Cor palha. Nariz de lima, alperce, alguma líchia. O registo é fino e sem exageros, com ligeira presença de barrica em fundo. Muito boa acidez, trabalho de borras excelso, final afinado e definido, com margem de evolução. Mostra-se um degrau acima das anteriores edições.
Consumo: 2021-2026
10,50 € / 11ºC


17
Quinta do Gradil Saltimbancos Sauvignon Blanc 2019

Regional Lisboa / Branco / Quinta do Gradil
Verde limão. Notas de espargos, gramíneas, toque suave de barrica, alguma especiaria e pimenta branca. Combina camadas de frescura com uma generalizada perceção mineral, tem amplitude e está atrativo. Uma edição de 650 garrafas da gama experimental do Gradil.
Consumo: 2021-2026
35,00 € / 11ºC


17
Quinta do Gradil 1492 Tannat 2018

Regional Lisboa / Tinto / Quinta do Gradil
Retinto. Aromas de algum floral, cereja escura esmagada, mirtilo, pimento e balsâmicos. Tanino em estado quase selvagem, estrutura muito afirmativa, acidez indomável, grande volume e final muito persistente. Pode esperar largos anos em garrafa.
Consumo: 2021-2028
10,50 € / 16ºC


16,5
Quinta do Gradil Arinto 2019

Regional Lisboa / Branco / Quinta do Gradil
Amarelo limão. Notas de palha seca, flor e limão. Bastante fresco, revela boa dimensão, acidez firme, amplitude e profundidade no final, que é persistente e nervoso. Conseguirá evoluir bem.
Consumo: 2021-2026
10,50 € / 11ºC


16,5
Quinta do Gradil Reserva 2018

Regional Lisboa / Branco / Quinta do Gradil
Chardonnay e Arinto. Amarelo, laivos dourados. Sempre perfumado, mostra pétala de rosa, jasmim, lima e expressão de barrica. Untuoso, com bom volume e de estrutura segura. De final agradável e persistente, tem na acidez o argumento final de garra.
Consumo: 2021-2025
16,57 € / 11ºC 


16
Quinta do Gradil Chardonnay 2019

Regional Lisboa / Branco / Quinta do Gradil
Amarelo palha. Nariz de flor branca, jasmim, ameixa, algum abaunilhado de barrica, especiaria breve. Untuoso, apresenta bom trabalho de borras, mostra acidez sempre em fundo, tem um final glicerino e gastronómico. Conseguirá evoluir.
Consumo: 2021-2026
10,50 € / 11ºC


16
Quinta do Gradil Chardonnay e Arinto Espumante Reserva Bruto 2017

Lisboa / Espumante / Quinta do Gradil
Dourado e de bolha fina. Muito cítrico: limão, maçã verde, raspa de lima. Complementos de massapão e pastelaria fina. Revela boa acidez, frescura geral, mousse competente. Termina fresco. Estagiou 18 meses sobre borras e confidencia aptidão gastronómica.
Consumo: 2021-2022
10,25 € / 8ºC
 

Quinta do Gradil
Estrada Nacional 115 Vilar
2550 - 073 Vilar | Cadaval
T. 262 770 000
M. 933 630 015 / 914 909 216
E. info@quintadogradil.pt / enoturismo@quintadogradil.pt

 

TEXTO E NOTAS DE PROVA Guilherme Corrêa, José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires