Selvagem para enclausurar

Fotografia: Fotos D.R.
Marc Barros

Marc Barros

A Adega Cooperativa de Monção lançou o Selvagem, um Alvarinho muito especial que visa assinalar o aniversário da assinatura, há três anos, do decreto que permite a utilização do selo de garantia próprio da sub-região de Monção e Melgaço. Na ocasião, o presidente da direção da cooperativa, Armando Fontaínhas, afirmou à Revista de Vinhos que se trata de “um selo de identidade”, como que uma marca do “terroir muito particular da sub-região e dos vinhos da casta Alvarinho que aqui se produzem”. 

 


Nasceu assim o Alvarinho Deu-la-Deu Selvagem, este da colheita de 2017. Trata-se, segundo o enólogo Fernando Moura, de um vinho feito “de forma ancestral”, utilizando a técnica da curtimenta, tal como um vinho laranja.
O Alvarinho Selvagem resulta das “tradições ancestrais do fabrico de vinho branco”, de uvas recolhidas de “parcelas que oscilam entre 300 a 350 metros de altitude”. As uvas são desengaçadas e “massas, mosto e películas vão para a cuba de fermentação, onde sofrem um choque térmico de 14ºC durante 24 horas para fazer a maceração pré-fermentativa”. A fermentação faz-se juntamente com as películas e grainhas durante três semanas, findas as quais “procedeu-se à separação das massas, tendo o vinho permanecido em cuba inox durante 12 meses sobre as borras”. Estas foram levantadas “mensalmente para aumentar a estrutura e complexidade do vinho”.


Trata-se de “um vinho estruturado, de cor dourada, com aromas característicos da película da uva, com notas de lima e limão e alguns frutos tropicais. Na boca é persistente, encorpado, untuoso e complexo. Harmoniza bem para entradas, aperitivos fumados, chouriço e presunto, peixes gordos, carnes vermelhas, caça e queijos fortes”, resume o enólogo.


É também um “vinho de guarda, pode ser bebido daqui a 15 anos” e que contraria o preconceito de que “os brancos devem ser bebidos jovens, pois possui a estrutura dos taninos que lhe foram fornecidos pela fermentação com as películas e graínhas”. Dado o seu processo de elaboração ancestral, recebeu o nome de Selvagem. Deste vinho foram cheias 1700 garrafas de 0.75 l. (20,00€), 200 garrafas de 1,5 l. (40,00€) e 30 unidades de 3 l. (80,00€).
A Adega de Monção, fundada em 1958, reúne 1.600 associados. Considerada das mais pujantes do setor, tem uma produção média anual de 6,5 milhões de garrafas. Vinifica uvas de 1.340ha de vinhas, num total que ronda anualmente os seis a sete milhões de quilos, das quais 60% são Alvarinho.